Escorpiões superam cobras em casos de envenamento
Os escorpiões ultrapassaram as serpentes como animais peçonhentos responsáveis pelo maior número de casos por envenenamento no Brasil, indica um levantamento do Sinitox (Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas), da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. Em 2005, ano analisado pelo Sinitox, 8.208 pessoas foram picadas por escorpiões, contra os 7.213 casos registrados em 2004.
O número representa 35% dos 23.647 envenenamentos causados por animais peçonhentos, superando os casos ligados a serpentes (21%) e a aranhas (20%). Para a coordenadora do Sinitox, Rosany Bochner, o aumento do número de ataques está ligado ao aumento da população de escorpiões que, por sua vez, é resultado do processo de “urbanização desorganizada” das cidades brasileiras.
“As pessoas foram entrando no meio onde estavam esses escorpiões: áreas de encostas, de barrancos, de solos mais empobrecidos”, disse Rosany. Outro fator, explica a cientista, é o acúmulo de embalagens, entulhos e lixo, que oferecem abrigo e comida ao escorpião. Ambientes úmidos e escuros seriam especialmente favoráveis ao escorpião, que tem hábitos noturnos e passa facilmente despercebido.
Rosany acredita que o Tityus serrulatus, conhecido como escorpião amarelo, seja a espécie responsável pela maioria dos ataques registrados. Uma das mais venenosas, a espécie vem se espalhando por áreas urbanas porque, entre outras coisas, se prolifera facilmente e estaria ocupando o lugar de escorpiões menos nocivos. “Essa espécie é formada só de fêmeas. Ela sozinha pode ter duas crias por ano, com 20 filhotes cada. Basta um ser levado numa caixa de frutas para que você em pouco tempo tenha uma população”, alerta Rosany. A pesquisadora também vê no abandono do canibalismo um sinal de que a espécie está em desequilíbrio.
“Em geral, o escorpião vive sozinho porque um come o outro. Mas temos visto muitos no mesmo lugar, o que mostra um desequilíbrio.” Para Rosany, o aspecto mais alarmante é o aumento no número de mortes em decorrência das picadas por escorpiões. “Em 2004, foram registrados quatro óbitos. Em 2005, passou para 16, o que significa um aumento de 300%”, destaca. As principais vítimas fatais, acrescenta a pesquisadora, são crianças. Ela explica que um adulto pode até suportar a picada, mas no caso de uma criança a situação costuma ser muito mais grave.
O site do Sinitox informa que a dor causada pela picada do escorpião se torna tão intensa que o paciente entra em choque neurogênico, o que pode levá-lo à morte.
Por isso, a orientação da pesquisadora é que a pessoa picada, adulto ou criança, seja levada o mais rápido possível a um posto de saúde. O levantamento do Sinitox indica ainda que os casos de envenenamento por animais peçonhentos também superaram os de intoxicação por medicamento, que tradicionalmente lideravam esses casos.
Os dados indicam 21.926 casos de intoxicação por medicamentos, o que equivale a 23% do total. Os agrotóxicos responderam por 6,6% (5.577 casos). Rosany ressalta, no entanto, que essa inversão pode se dever ao fato de o levantamento não incluir os dados do Centro de Intoxicações de São Paulo, um dos maiores do Brasil. Em 2004, apenas aquele centro registrou 10 mil casos, dos quais 40% correspondiam a intoxicações por medicamentos. Um acréscimo semelhante, de 4 mil casos, teria confirmado a posição dos medicamentos como principal meio de intoxicação em 2005.
Os maiores responsáveis pelas mortes por intoxicação são, no entanto, os agrotóxicos –33% dos óbitos registrados em 2005 foram causados por esses produtos. Ainda de acordo com o levantamento, 11% das mortes registradas estão ligadas a raticidas, 18% a medicamentos e 9% a animais peçonhentos. Segundo Rosany, embora haja casos de intoxicação acidental ou ocupacional, a maior parte das mortes causadas por agrotóxicos resulta de suicídio, geralmente de homens jovens (20 a 29 anos). Dos 159 óbitos, 132 teriam sido suícídios. No total, foram registrados 5.577 casos de intoxicação por agrotóxicos, mas a própria coordenadora do Sinitox admite uma provável subnotificação.
Segundo Rosany, o maior número de casos de intoxicação está ligado ao uso crônico de agrotóxicos agrícolas, ou seja, pessoas que lidam com esses produtos diariamente, muitas vezes sem os cuidados e os equipamentos de proteção adequados. Rosany também destaca um aumento de 20% nos caso de intoxicação por agrotóxicos de uso doméstico.
Fonte: Folha Online.